Em 1917, pacifista convencido, Romain Rolland, escritor francês, manifestou-se da seguinte forma em relação às unanimidades "patrióticas" a que assistia à sua volta:
"Todo homem de verdade deve aprender a ficar só no meio de todos, a pensar só por todos. A humanidade pede àqueles que a amam de fato que, sempre que necessário, sejam capazes de guiá-la e revoltar-se contra ela".
Romain Rolland, "L'Un contre tous", publicado parcialmente em 1917, depois transformado em Clérambault, histoire d'une conscience libre pensant la guerre.
Publicado no Brasil como História de uma consciência - Clérambault (4a. edição: Rio de Janeiro: Editora Ponguetti, 1948).
(informações retiradas da biografia escrita por Alberto Dines: Morte no Paraíso: a tragédia de Stefan Zweig (3a. edição, ampliada; Rio de Janeiro: Rocco, 2004), p. 204.
Talvez a mesma advertência devesse se aplicar ao contexto de 1933-34, quando da ascensão do nazismo, ou mesmo antes, nos anos 1920, quando da ascensão do fascismo italiano. As unanimidades assistidas na Alemanha e na Itália, em relação aos dois totalitarismos ascendentes contribuiram para que ditadores desequilibrados conduzissem seus respectivos países, a Europa inteira e grande parte do mundo a um ciclo infernal de destruições e mortes que até hoje nos causam horror.
Em escala diferente, mas com igual pertinência, creio que cabe alertar contra descaminhos que nos parecem conduzir nossa sociedade a recuos ou pelo menos à estagnação, no plano econômico e material, quando não a retrocessos nos planos político ou cultural. Nessas horas, talvez seja útil seguir a lição de Rolland e ficar sozinho contra todos, e cumprir o papel de mensageiro do desastre, não tendo medo do isolamento, mas respondendo exclusivamente à sua própria consciência.
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Um comentário:
Os temas que a regra claustral designava à meditação dos monges tinham por tarefa ensinar-lhes o desprezo pelo mundo e as suas pompas. As nossas atuais reflexões procedem de uma preocupação análoga. Neste instante em que jazem por terra os políticos em que os adversários do fascismo haviam colocado suas esperanças, em que esses políticos agravam a sua derrota traíndo a sua própria causa, desejaríamos arrancar a política das malhas do mundo em que eles a encerraram. O ponto de partida da nossa reflexão é que a ligação desses políticos ao mito do progresso, a sua confiança na "massa" que lhes servia de "base", a sua sujeição a um aparelho incontrolável foram apenas três aspectos duma mesma realidade. Quereríamos sugerir como sai caro aos nossos hábitos de pensamento ter uma visão da história que recusa toda a cumplicidade com aquela a que se agarram ainda esses políticos. (Walter Benjamin - Teses sobre a Filosofia da História)
...Tudo se repete, ô maninho, como antigamente/ e o diabo gosta, ô maninho, arrepia a gente...
Pazzolini, no seu filme Rogopag, diz algo assim: Homem médio, você é a desgraça da humanidade! Aurea Mediocritas, t´iscunjuro! Minha tia beneditina dizia Coitados dos inteligentes atuantes...
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