sábado, janeiro 16, 2010

31) Uma mensagem de final de ano, um outro final de ano...

O que foi escrito abaixo, me foi remetido de volta por um colega, posto que eu escrevi e nunca mais me lembrei dessa mensagem de final de ano, escrita um pouco mais de dois anos atrás, nessas trocas de cumprimentos festivos que sempre fazemos nessas ocasiões.
Eu a transcrevo pois ela reflete um retrato de um momento, uma avaliação de situação, que certamente foi mais do que confirmada desde então.
Com poucos cortes, por razões puramente de conveniência (e também para atender a critérios da Lei do Serviço Exterior), eu a transcrevo aqui, apenas como registro do que eu pensava, no final do 2007, e que continuo a pensar hoje, início de 2010:

"From: pralmeida@mac.com
To: (xxx)
Subject: Fim de ano
Date: Fri, 21 Dec 2007 11:34:02 -0200

Fico muito sensibilizado pelo seu apoio, meu caro. Não se preocupe mais. O Itamaraty tem uma cultura muito especial e eu nunca fui muito adepto das manias e trejeitos dos diplomatas. Trata-se de uma Casa ultra competitiva, com muita dose de enquadramento nos rituais internos para que essa competicao seja bem sucedida no plano individual, e eu nunca pretendi me enquadrar no estilo. Sempre fiquei no meu canto, estudando, escrevendo, falando com sinceridade aquilo que me parece negativo do ponto de vista da pura racionalidade instrumental, e acredito hoje que essas nãoo são as qualidades requeridas para se triunfar na Casa.
Acredito mesmo que poucos diplomatas têm cultura econômica verdadeira, e se prestam a analisar a politica externa do ponto de vista daquilo que os economistas chama de custo-oportunidade do capital, ou seja, a eficiencia paretiana, o melhor emprego dos recursos, calculo sobre retorno de investimentos, etc. Tudo é feito de forma muito politizada e de forma absolutamente irracional. Basta ver, por exemplo, (...). Tudo isso é claramente absurdo e no entanto se faz, ao arrepio de qualquer racionalidade administrativa ou mesmo política.
Tempos (...) para o Itamaraty.
Vou continuar minha trajetoria de estudos, com serenidade, mantendo minha dignidade intelectual, mesmo na adversidade atual.
By the way, terminei um trabalho sobre o regionalismo sul-americano, de que lhe dou conhecimento em primeira mao. Agora estou tentando terminar um trabalho sobre o impacto do AI-5 no Itamaraty. Se voce tiver algum depoimento a prestar, com base neste questionario-guia que eu preparei, sinta-se a vontade.
Muito grato pelas suas palavras.
O grande abraco e felicidades.
Paulo Roberto de Almeida" (21.12.2007)

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Ao receber a mensagem, desse amigo, agreguei agora estas palavras:
"Grande Xxxxx, capaz de guardar uma mensagem que havia desaparecido completamente de minha memoria e certamente de meus registros textuais, que so computam trabalhos escritos e terminados.
Grato por me retransmitir. Vou refletir sobre ela.
Nada mudou para mim no plano individual, mas como voce sabe, eu sempre coloquei a honestidade intelectual a frente de minha condição profissional, e certamente também para a PExtBr,....
Tempos... que vao ficar como um travo amargo para todos e cada um de nós, mesmo nos colaboracionistas, tenho certeza.
O grande abraco do
Paulo Roberto de Almeida"(16.01.2010)

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