quinta-feira, julho 02, 2009

17) Questionário sobre a diplomacia

Mais um questionário respondido bilateralmente, e que tinha permanecido inédito desde então.

Questionário sobre a diplomacia
Paulo Roberto de Almeida (6 de junho de 2008)
a questões colocadas por estudante da Universidade de Caxias do Sul

Breve currículo para crédito da fonte, contendo formação, cargo, embaixada e tempo que atua na função.
Paulo Roberto de Almeida: Doutor em Ciências Sociais (Universidade de Bruxelas, 1984), mestre em Planejamento Econômico (Universidade de Antuérpia, 1977), diplomata de carreira desde 1977. Trabalhou no Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (2003-2007). Professor no mestrado em Direito do Uniceub e professor-orientador no mestrado em diplomacia do Instituto Rio Branco. Ocupou postos nas embaixadas em Berna (1979-1982), Belgrado (1982-1985), Paris (1993-1995) e Washington (1999-2003) e nas delegações do Brasil em Genebra (1987-1990) e em Montevidéu (1990-1992). Último posto diplomático ocupado: ministro-conselheiro na Embaixada em Washington. Na Secretaria de Estado das Relações Exteriores (MRE) foi chefe da Divisão de Política Financeira e de Desenvolvimento (1996-1999). Atualmente (2003), é professor orientador do Mestrado em Diplomacia do Instituto Rio Branco. (ver mais em www.pralmeida.org)

1) O que caracteriza uma embaixada?
Trata-se, simplesmente, de uma representação política de um país junto a outro, mais especificamente de um enviado de um chefe de Estado junto a seu colega, no quadro de relaçoes diplomáticas normais. Trata-se de uma instituição das relaçoes internacionais muito antiga, hoje formalizada por alguns tratados multilaterais e sempre enquadrados numa determinada relação bilateral.

2) Qual a função do Embaixador?
Três funções, basicamente: representar, informar, negociar. São clássicas, mas o embaixador desenvolve um trabalho de relacionamento pessoal com representantes oficiais do Estado em que está acreditado, mas também alcançando a sociedade civil e meios especializados (homens de negócios, de letras, cientistas, acadêmicos etc).

3) Quais os elementos essenciais e/ou mais importantes para o exercício da diplomacia em um país estrangeiro?
Sensibilidade para as peculiaridades do país em que está acreditado, travar um conhecimento não perfeito, mas suficiente desse país para poder informar de maneira adequada, desenvolvimento de relações sem qualquer tipo de preconceito político ou ideológico, disposição para receber, conversar, travar relações mais amigáveis do que o simples contato burocrático, o que pode facilitar tarefas negociadoras.

4) A seu ver, qual a importância da comunicação no exercício da diplomacia?
A diplomacia vive de informação (muita) e de comunicação (regular, constante, permanente), para o seu próprio serviço diplomático, mas também em direção do país em que se está acreditado. A informação, para qualquer dos lados, mas sobretudo para o país em que se está servindo, precisa ser objetiva, clara, sincera, e se pautar por simples regras de cortesia e de formalidade diplomática.

5) No que o fator cultura interfere quando das ações diplomáticas em diferentes países?
Uma regra essencial para todo diplomata é sua capacidade de representar e de dialogar com os nacionais do país em que serve sem jamais ofender sensibilidades ou incorrer em alguma descortesia involuntária, por desconhecimento da cultura local, da história desse país e de suas orientações políticas básicas. A cultura é o elemento subjacente a qualquer povo, independentemente de suas instituições políticas, de seu desempenho econômico ou mesmo das orientações de sua diplomacia. Conhecer a cultura de um povo facilita enormemente o trabalho de representação e de negociação.

6) A embaixada do Brasil utiliza uma comunicação previamente planejada?
Depende muito da Embaixada. Em grandes postos (digamos Washington, Buenos Aires, Londres, Paris e alguns outros), sempre existem assessores de imprensa e um trabalho conduzido especificamente no plano do relacionamento público e da informação dirigida. Pequenos postos não costumam ter esse tipo de assessoria, por insuficiência de meios, mas isso não quer dizer que o embaixador não possa ter uma estratégica própria de comunicação, obviamente adaptada ao contexto cultural e político e às circunstâncias locais.

7) Todas as Embaixadas brasileiras seguem uma mesma orientação quanto a comunicação, ou cada embaixador é livre para planejar a sua?
Há muita variação nesse particular, pois tudo depende da densidade das relações bilaterais e do engajamento do país nessa relação particular. A regra básica é elevar ao máximo a qualidade das relações, o que implica desenvolver um trabalho sempre adaptado às características especificas do posto. Todo Embaixador pode, e deve, tomar iniciativas e desenvolver seu próprio programa de comunicação, mas nem todos dispõem de meios adequados (financeiros, basicamente, mas pessoal, também) para cumprir grandes objetivos.

Paulo Roberto de Almeida
Rio de Janeiro, 6 de junho de 2008

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